Da primeira uva colhida até agora, a Guaspari expandiu sua produção, atingindo atualmente a marca de 130.000 garrafas por ano
A Guaspari, vinícola situada em Espírito Santo do Pinhal, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, tem se destacado como um dos principais nomes da vitivinicultura no Brasil. Desde a plantação das primeiras videiras em 2006, a empresa evoluiu significativamente, tornando-se referência em qualidade e inovação no mercado de vinhos, graças ao uso da técnica chamada “poda invertida”, que permite a colheita das uvas no inverno.
A vinícola é comandada por Fabrizia Zucherato, que ocupa o cargo de diretora executiva desde 2013. Da primeira uva colhida até agora, a Guaspari expandiu sua produção, atingindo atualmente a marca de 130.000 garrafas por ano. Fabrizia, que acumula vasta experiência em gestão de projetos e consultoria no setor agroindustrial, tem sido peça fundamental na consolidação da vinícola como uma das líderes do mercado brasileiro.
Com passagens por empresas como Monsanto e Seara, além de ter atuado como consultora de agronegócio para o World Bank Group, Fabrizia trouxe uma visão estratégica que impulsionou a Guaspari a alcançar reconhecimento em concursos nacionais e internacionais, com especial destaque para a produção da casta Syrah, que se adaptou excepcionalmente bem ao terroir local.
Em entrevista exclusiva à EXAME Casual, Fabrizia compartilha os desafios e as conquistas à frente da Guaspari, detalhando os próximos passos da vinícola e a importância da inovação na produção vinícola brasileira. Apesar de não revelar valores de investimento (fontes do setor dizem que está na casa dos milhões de reais), ela fala sobre a consolidação das áreas de produção, a ampliação das atividades, e a aposta em variedades que prometem continuar elevando o padrão dos vinhos nacionais. Veja os principais trechos.
Qual é o principal objetivo da Guaspari nos próximos anos?
Atingir nossa capacidade total de vendas. Temos cerca de 50 hectares, mas ainda não colhemos tudo. Nos próximos anos, queremos focar em alcançar essa capacidade produtiva no mercado, o que envolve desafios significativos. A presença nos restaurantes continua sendo crucial, pois eles introduzem os consumidores aos nossos vinhos e despertam a curiosidade para conhecerem nossa vinícola. Isso retroalimenta nosso mercado.
Como os restaurantes de São Paulo influenciam as vendas da vinícola?
A experiência que oferecemos em São Paulo é fundamental para as nossas vendas. Os restaurantes da capital são onde muitos consumidores têm o primeiro contato com nossos vinhos, e isso desperta a curiosidade de visitarem a vinícola em Espírito Santo do Pinhal. O mercado consumidor de vinhos no Brasil é 90% concentrado em São Paulo, o que torna a capital um ponto estratégico para a nossa marca. Essa relação é vital para o crescimento e manutenção do nosso mercado. Todas as frentes de vendas que temos, como lojas, restaurantes e experiências diretas na vinícola, são importantes e se complementam.
A Guaspari pretende expandir sua capacidade de produção?
Não estamos focados em expansão, mas sim em adequar nossa estrutura para processar a produção dos 50 hectares. Nossa indústria já existe há muitos anos e possui uma capacidade máxima. Com a entrada desses hectares em produção, precisamos reorganizar e estruturar melhor para lidar com a quantidade de uvas que virá. Isso não significa expandir, mas sim otimizar e adequar nossas operações para continuar entregando vinhos de alta qualidade ao mercado.
Como foi o processo de adaptação das uvas na região?
Foi desafiador, pois não havia bibliografia sobre como manejar as vinhas no clima tropical e de altitude do Brasil. Tivemos que aprender por meio de erros e acertos, adaptando as tecnologias existentes. Hoje, temos domínio sobre as variedades plantadas. A Syrah se adaptou mais rapidamente, mas também dominamos o manejo dos Cabernets, que são uma grande aposta nossa. O conhecimento acumulado nos permite produzir vinhos de alta qualidade, respeitando as características do terroir.
Além da Syrah, quais variedades de uvas se destacaram?
A Syrah e o Sauvignon Blanc se destacaram por se adaptarem rapidamente ao nosso terroir. Além disso, conseguimos dominar o manejo dos Cabernets e do Pinot Noir, que produzem vinhos únicos na região. O Pinot, por exemplo, tem uma tipicidade muito marcante. Nosso Viognier branco também é um destaque, com um frescor e uma acidez únicos. Esses vinhos refletem as características únicas do nosso terroir e são resultado de um trabalho contínuo de estudo e adaptação às condições locais.
Qual a importância da poda invertida para a elaboração de vinhos no Brasil?
A poda invertida foi crucial para a adaptação das vinhas ao nosso clima e terroir. Esse método permitiu que as uvas amadurecessem de maneira mais equilibrada, resultando em vinhos de maior qualidade. Somos uma das vinícolas que mais pesquisa na região, e essa inovação foi um marco importante. Acredito que nossa região continuará a desenvolver características únicas e autênticas, valorizando o terroir e a agricultura em pequena escala, o que é essencial para a sustentabilidade e a qualidade dos nossos vinhos.
A Guaspari tem investido em outras áreas além do vinho?
Investimos em outras áreas valorizando a produção local da região, como apoiar produtores de queijos. Acreditamos que a agricultura em pequena escala é mais equilibrada e sustentável. Nossa região é ideal para essa abordagem, combinando diferentes produtos como café, azeite e vinho. Esse conjunto é muito forte e nos permite oferecer uma experiência completa e autêntica, que reflete as características únicas do nosso terroir e reforça a identidade da região.